É uma das coisas que jamais se espera, que não podemos nos
preparar e quando acontece o mundo desaba.
Principalmente porque sempre ocorre de onde não
deveria acontecer.
A dor é dilacerante.
Só quem já passou por uma situação assim sabe a angustia que
se instala no peito.
É impossível descrevê-la. Só é possível sentir.
É como tentar explicar o sabor de alguma coisa. Dá pra falar
alguma coisa, mas só se sabe realmente quando se experimenta.
A imagem que me ocorre sobre essa angústia é do cachorro que
dorme fora de casa. Quem já teve sabe. Quando você abre a porta, ele corre pra
entrar.
Mesmo que você abra bem devagar, quase sem barulho, “ele
sabe”, vem correndo e entra.
A angústia é exatamente assim.
Você desperta no meio da noite – seja as duas, três ou
quatro da madrugada.
“Abre o pensamento” e a angústia explode no peito.
Aí o pensamento não cessa. E o peito já foi invadido pelo
“grande cão preto” (existe uma animação perfeita com esse nome).
E essa situação te coloca escancarado na sua PIOR VERSÃO.
E quem te SUPORTA na sua pior versão é quem merece seu afeto
e gratidão pra VIDA.
Eis o meu ponto.
São DUAS as razões para acreditar que só as pessoas que tem
um afeto real por você suportam estar com você nesse momento.
O primeiro é que você fica frágil, melancólico e sem energia
física (embora transpire energia ruim).
Repete as coisas; nega ser racional. Quer ser confirmado e
legitimado na própria dor.
O humor rebaixado faz o discurso oscilar entre raiva, dor,
aceitação, vitimização.
A segunda coisa é que você expõe o que a de pior na própria
existência.
Você revela para as pessoas que elas podem ser as próximas.
Também é quase insuportável ver no REAL como uma pessoa pode
ficar quando passa por uma traição.
É inevitável não ver naquela dor a possibilidade de que “poderia
ser eu”. Reconhecer que você pode sentir isso dá calafrios.
Quem me traiu? Está feliz e radiante.
Com as mãos sujas, mesmo que ninguém possa ver.
Mas com sorriso de quem venceu uma batalha.
Isso me fez questionar, em alguns momentos, as leis divinas
ou do Universo.
Na dor isso fica totalmente invisível.
Tenho ouvido que o tempo da semeadura e colheita não é
cronológico e nem humano. É Divino. No tempo Dele. Será? É uma possibilidade.
Por isso tudo é que enxergo o acolhimento e insistência de
alguns como um ato de super-humanos.
Quem vê uma ferida aberta, na carne, e suporta entrar e ficar com você até o sangramento estancar, merece um Nobel da Paz.
Minha gratidão a quem tem me suportado na pior versão nesse
momento.
“Se escrevo o que sinto
é porque assim diminuo a febre do sentir” FP
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