
Todos estes meios tons da consciência da alma criam em nós uma paisagem
dolorida, um eterno sol-pôr do que somos. O sentirmo-nos é então um campo
deserto a escurecer, triste de juncos ao pé de um rio sem barcos, negrejando
claramente entre margens afastadas.
Não sei se estes sentimentos são uma loucura lenta do desconsolo, se
são reminiscências de qualquer outro mundo em que houvéssemos estado —
reminiscências cruzadas e misturadas, como coisas vistas em sonhos, absurdas na
figura que vemos, mas não na origem se a soubéssemos. Não sei se houve outros
seres que fomos, cuja maior completidão sentimos hoje, na sombra que deles
somos, de uma maneira incompleta — perdida a solidez e nós figurando-no-la mal
nas só duas dimensões da sombra que vivemos.
Sei que estes pensamentos da emoção doem com raiva na alma. A
impossibilidade de nos figurar uma coisa a que correspondam à impossibilidade
de encontrar qualquer coisa que substitua aquela a que se abraçam em visão —
tudo isto pesa com o uma condenação dada não se sabe onde, ou por quem, ou
porquê. [...]
[...] O tempo! O passado! Aí algo, uma voz, um canto, um perfume
ocasional levanta em minha alma o pano de boca das minhas recordações… Aquilo
que fui e nunca mais serei! Aquilo que tive e não tornarei a ter! Os mortos! Os
mortos que me amaram na minha infância. Quando os evoco, toda a alma me esfria
e eu sinto-me desterrado de corações, sozinho na noite de mim próprio, chorando
como um mendigo o silêncio fechado de todas as portas".
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